Discurso de Abertura 11º FIQ — 2022

Lucas Ed .
4 min readAug 8, 2022

Belo Horizonte tem, desde 1997, um evento internacional de quadrinhos bienal. Um evento gigante que foi crescendo e se estabilizando com o passar do tempo, até se tornar o maior evento de quadrinhos da América Latina.
Eu nunca perdi uma edição do evento. Desde moleque, até começar a trabalhar e até hoje, já um homem perto da meia idade.
Ser convidado para atuar como curador desta edição de 2022 foi, como disse minha parceira na vida Dona Flávia, ser chamado para algo que aparentemente eu me preparei por toda a vida (mesmo sem saber que estava fazendo isso).
Este abaixo é o texto que proferi na cerimônia de abertura do evento, em 03 de agosto de 2022.

(e é a primeira, de provavelmente três publicações que farei sobre o Festival. À medida que elas forem saindo, colocarei os links ao final)

Identidade visual do FIQ 2022 foi da Laura Athayde

É 2022, e a 11ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos pode enfim acontecer. Nosso plano não era esse, mas ficamos quatro anos sem nos ver. Sem abraçar as amigas e os amigos, sem poder ver o que andam fazendo, sem poder conversar sobre o que cada uma e cada um tem feito.

Não preciso lembrar que foram quatro anos entre uma edição e outra, na verdade. Sei muito bem que cada um de nós, que amamos este Festival, contamos os dias e as horas para estarmos aqui de novo. Bem, eu contei. Risquei tracinhos na parede como um presidiário de desenho animado, então é uma sensação mista de alegria e de conforto por voltar para casa.

Sim, casa. Porque se já sou naturalmente feliz de ser mineiro, de ser belorizontino, sou mais ainda porque é nesta cidade que, desde 1997, no Centenário de sua fundação, quadrinistas do Brasil inteiro e dos mais diversos lugares do mundo se encontram para celebrar essa forma de arte tão versátil, ainda tão popular e ao mesmo tempo underground, que são as histórias em quadrinhos.

Eu era garoto naquela primeira edição, quase edição número zero. Andei por aquela Serraria Souza Pinto onde pisaram artistas geniais que eu já admirava, gente como Will Eisner e Angeli. Já com o nome de FIQ, foi neste evento que vi pela primeira vez uma página original de alguém. Com o passar dos anos e das edições, fui conhecendo, crescendo e fazendo amigos. E o FIQ lá, constante como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo. Na verdade, pra mim, o FIQ sempre foi mais esperado do que ambas, e pra minha sorte acontecia sempre na metade do tempo de uma delas.

Dividir a curadoria do evento com a Amma foi um daqueles convites que não se nega — é quase intimação, na real. Ao mesmo tempo, foi também uma das maiores responsabilidades que os quadrinhos poderiam me dar. Se isso não bastasse, essa responsabilidade ainda foi muito aumentada: o primeiro FIQ em formato OSC/Prefeitura, com chamamento público e tudo. O primeiro FIQ depois (aspas nesse “depois”) da pandemia de COVID-19. Pandemia que nos isolou, nos encheu de medo e pior, nos levou amigos queridos e artistas insubstituíveis. Talvez esta décima primeira edição seja quase tão importante quanto aquela Bienal de Quadrinhos de 1997. Porque aqui estamos para celebrar a vida pulsante nas histórias em quadrinhos. A vida vibrante em nós, artistas, produtores, admiradores. Celebrar a vida daqueles que nos deixaram fisicamente, mas que seguem presentes, vivíssimos e poderosos, no trabalho que nos legaram, nas memórias que construímos juntos.

Poder fazer isso tudo celebrando o talento e a grandeza de um artista como Marcelo D’Salete, é ainda mais especial.

Antes de me despedir, quero agradecer à Prefeitura de Belo Horizonte e à AMAP/Instituto Lumiar, por possibilitarem mais esta edição. Ao Afonso Andrade, por carregar essa tocha desde sempre. À Mariamma, ao Gabriel e ao João Belo pelo muito trabalho e pela parceria sensacional. Aos nossos convidados, aos expositores e artistas que toparam estar conosco mais uma vez. Aqueles e aquelas que não puderam vir, e que nos fazem já sentir alguma ansiedade pelo reencontro adiado para a próxima edição. E claro, ao público, aos visitantes, porque a função do FIQ é fazer circular!

Olha, é bom demais estar aqui de novo. É maravilhoso poder celebrar com cada uma e cada um o retorno desse evento que é dono do coração de muita gente.

VIDA LONGA AO FIQ!

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Lucas Ed .

O Poderoso Porco do cavalo imaculado. Investigador de polícia, mestre e doutorando em Psicologia Social/UFMG, professor. https://linktr.ee/lucas.edp